segunda-feira, junho 20, 2011

Criar mensagem

Ontem ele disse-me: se não sabes o que hás de fazer, porque é que não escreves? Acho que não se referia aqui a isto, mas fiquei meio de boca aberta sem saber o que dizer/pensar/escrever. É que quem escreve é ele, ultimamente não sou eu.
É assim um grande aperto, uma sensação de não caber. Acho que se for dar uma vista de olhos neste sítio vou encontrar outras épocas de sentidos iguais. Não me lembro do que fazia nesta altura, mas é a primeira vez que férias serão férias, e fim da tarde é para descansar etc. - por isso é basicamente uma estreia e não tenho exemplos a seguir. Mas eu não sei fazer isso. E já tentei quase tudo, e quase nada funciona - até agora, nada mesmo. Talvez devesse voltar a frequentar bibliotecas municipais e institucionais, só ainda não descobri com que objectivo. É o tédio.

quinta-feira, dezembro 30, 2010

Eu visto-me de preto porque o meu coração tem todas as cores.

domingo, dezembro 26, 2010

depois de














já falei por aqui várias vezes do quanto gosto do frio. do quanto prefiro frio a calor. já falei aqui do quanto gosto de andar na rua sozinha à noite. e gosto de misturar os dois. dá-me uma noção forte de realidade e de vida, diz-me que tudo o que ando a sentir por esta altura é real e está vivo. volto aqui com estas conversas sobre o que sinto, mantém-se a tendência geral. na verdade, esta sou eu, e vou acrescentando bocadinhos a mim que me fazem crescer. há quem saiba do que falo, há quem se encontre no que escrevo. com todo o mérito. be my guest.
falava do frio. este frio é quente, bem quentinho. poucos sabem dele, quem sabe deixa-se aquecer também. isto agora é assim: inverno rigoroso com lareira e chazinhos.

domingo, junho 06, 2010

Domingo

Normalmente tento não acreditar neste género de coisas, mas parece que este sítio tem necessidade de uma condição especial para ser alimentado. Ultimamente essa condição não se verifica. Tem mais a ver com o tempo do que com tempo, quem me conhece sabe do que falo. O tempo anda favorável. Apesar das dores de cabeça - caramba, tenho dores de cabeça faça chuva ou faça sol.
Normalmente é assim: um ou dois escritos pela novidade e depois tenho mais que fazer. É da novidade. O tempo passa a ser da novidade e a novidade promove o tempo. É difícil explicar.
Pas de nouvelles, bonnes nouvelles. Não é que isto contente ou justifique perante aqueles que sabem e não ouvem faz tempo, mas os meus amigos novos, P e T já ouvem falar menos de mim ultimamente. Isto é bom, sabem, este sítio fala de mim e é de mim que estou a falar - por muito umbiguista que isso seja. O mundo foi mal habituado nos últimos cinco anos e agora está a pagar por isso. Esta história começa agora, é menos tarde do que pensei que acabasse por ser (será que esperava realmente que essa quase-certeza que tive sempre se concretizasse com tanta precisão? É que foi mesmo em cheio!).
A condição não se verifica. Vou ter de reajustar o tom ou então let go.
Planos e planos, certezas e certezas, não-medos, não-reservas como sempre quis e acreditei. Falta a condição contrária - não falta, inexiste.
Volta depressa - já passaram duas horas.

quarta-feira, maio 05, 2010

T

Tantos e tantos Passos para chegar aqui. a este dia em que descubro que nada foi em vão, que é possível eu ser eu e há mais como eu, não era de todo descabido. esta é a verdade, esta sou eu de verdade.
Enough about me.
Os 15 soam a 15x7, faz sentido que seja assim. o encontro é na diferença - há algumas, umas mais manifestas que outras - e mais, muito mais do que diferença, é o Encontro. o medo do exagero nunca foi meu, e é bom ver que não é preciso - é natural e simples, e as coisas verdadeiramente importantes na vida são simples, não são difíceis.
Então há tudo para descobrir e tudo para construir e tudo para inventar, este nada de que se parte não é vazio, estava à espera há muito tempo, guardado à espera de tudo Isto, de todo este Tudo que me enche e me preenche e que abraça e aquece.
A pureza é importante demais para se lhe passar ao lado e a alma é transparente. não é preciso acrescentar nada nem esconder nada, só ser. e ser é amar e vice-versa, não sei por que ordem.
O que é quente e denso fica por mais tempo, aqui o tempo quer-se eterno.
A pluralização do mundo e da vida é mais feliz, ainda mais feliz do que esperava e não se divide: multiplica-se. acrescenta-se(-me) todos os dias mais e mais tijolos de um muro mais alto que as nuvens e o céu e o entendimento. não preciso de entender: o coração fala por si e não sozinho. não sozinha.
Sou maior e sou inteira.

quarta-feira, abril 28, 2010

Aquele tu não identificado que andou por aqui nos últimos anos passou a ter uma cara e um nome.
Sê benvindo à minha vida e ao meu coração.
A partir de agora é também por T.i

segunda-feira, abril 19, 2010

A Verdadeira História da Gata Borralheira III

mas à meia-noite não se transformou em abóbora. E dançou toda a noite com o príncipe, nos seus ténis novos.

sábado, abril 17, 2010

quinta-feira, abril 15, 2010

A Verdadeira História da Gata Borralheira

No dia em que fez 25 anos, a Gata Borralheira passou a tarde à volta de tachos e panelas, queimada no forno e picada pelas agulhas com que fez o vestido (qual fada-madrinha, qual quê!?).
O baile foi só dois dias depois, e aí ela dançou toda a noite com o príncipe, etc etc (o resto da história toda a gente sabe) e foram felizes para sempre. Fim.

quinta-feira, março 25, 2010

segunda-feira, março 22, 2010

quinta-feira, março 18, 2010

Ontem foi assim

Depois de um dia a mil a trabalhar para isto e isto, no meu vestido novo fui ao Lux para ver estes senhores.

E ainda há quem se queixe...

terça-feira, março 09, 2010

sábado, março 06, 2010

o que eu quero não é exactamente andar por aí ao sol - é precisar de uma sombra.

domingo, fevereiro 28, 2010

Sábado quase Domingo

Os meus novos amigos, T. e P., mesmo 24h depois, deixam-me doente de dores de cabeça. Mas com o tempo isto vai.
Estes 150/h ameaçados hoje pelas meninas dO Tempo fazem bater portas - as que se fecham e depois as que se abrem em consequência, ou se não é em consequência parece ou podia ser. Era mesmo verdade, parecia só conversa de quem (se) quer consolar mas estas coisas acontecem de facto. Então obrigada pela razão que já existia sem sabermos. Já sabíamos, não é verdade?, sabemos sempre o que esperar, mesmo sem o sabermos.
Já não estou assustada. Já não tenho medo. Não deixei de ter os medos, mas este já não tenho. Está tudo bem. Está tudo muito bem e vai ser óptimo. Vai ser óptimo. Já está a ser.

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

segunda terça quarta quinta sexta sábado domingo
segunda terça quarta quinta sexta sábado domingo
segunda terça quarta quinta sexta sábado domingo
segunda terça quarta quinta sexta sábado domingo
março

terça-feira, fevereiro 23, 2010

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

A Cotovia, Ultimamente: este post gostava de ter fins beneméritos.

Foi num dia de Janeiro. Um fim de tarde gélido, casaco de fazenda comprido, cachecol de três voltas, gorro à cabeça e luvas nas mãos.
Foi num dia difícil. Cheguei ao Saldanha à hora em ponto, apavorada com as probabilidades. Andei à procura pelas ruas, tinha um plano bem definido e potencialmente independente. Andei à procura mas não encontrei nada e Marguerite ficou para outra altura. Tinha tentando várias hipóteses e a decisão final foi ser sozinha, ia ser óptimo. Foi péssimo. E depois começou a chover e depois comecei a chorar, pequenina e o sozinha já não era a decisão madura que tinha sido. Um disparate.
Voltei, sozinha mas não tanto num comboio cheio e quente do ar condicionado. Ofereceu-me o jornal o senhor simpático ao meu lado, era um jornal bom e vinha em bom estado, e ele não ficava para o reaver: também não queria saber as horas dos cinemas.
Depois foi o resto, 1km a pé até casa, escuro escuro escuro mas não mete medo - este escuro não mete medo -, até sabe a vida em Paris e cidades grandes independentes. Por pouco.
Era uma velhinha minúscula com dois sacos do minipreço enormes (e o minipreço não era assim tão perto) mais a carteira e um braço partido. O cabelo arranjadinho, casaco de inverno como os das nossas avós, dava-me pelo ombro - era mínima.
Primeiro passei, estava zangada com o meu dia. Mas a velhinha não tinha culpa de eu não ter encontrado o Institut nem de estar a chover. Então voltei. Tive de pedir para lhe levar os sacos e tive de insistir para levar os dois - e não o menos pesado, como sugeriu. Morava logo ali e um dos nove cães com quem vivia, que tinha encontrado na rua, era responsável pelo gesso - que já não era gesso, mas não sei como é que se chama quando se tira o gesso.
Aida Cordeiro. Eu não conhecia esta senhora nem o nome dela. Professora da primária, escreve livros para crianças, ilustra, escreve poesia e encontra miúdas na estrada para as salvar. E cães abandonados.
- Escrevi um livro novo, A Cotovia Ultimamente, está muito bonito.
Claro que está, minha senhora, um livro que se chama a cotovia ultimamente só pode ser muito bonito. A senhora também é muito bonita.
- Devia ter um carrinho daqueles de levar as compras.
Depois prometeu-me um livro, mas ficou para outro dia. Nunca ninguém me tinha dito que eu era um anjo que lhe veio do céu. A Aida Cordeiro também foi um anjo que me apareceu no caminho para casa, e que não estava em casa quando lá voltei.
Agora não sei se existe mesmo ou se me apareceu só para me salvar aquele dia.

sábado, fevereiro 13, 2010

Adorava saber escrever com graça para mudar o tom a esta casa - é demasiado Emo.
Quero desligar-me (como disse a certa altura) deste consumo do coração, da procura constante de bons ou maus abanões (mas existentes, por amor de Deus!!). Quero puxar a cadeira mais para a frente e mergulhar no que tenho de fazer (tenho e quero). Quero que a luz que insisto em contar aqui pare de ter efeito nesses abanões e seja só uma parte dos dias e uma ajuda a esse tenho de fazer, porque abrir as janelas é melhor do que esperar que as lâmpadas de baixo consumo se decidam a fazer o seu trabalho - e me permitam fazer o meu.
Ultimamente ando em companhia deste senhor aqui em baixo e o que ele me ensina é também profundo - oh, tão mais profundo - e não magoa mas chateia - incomoda. Preenche. Puxa pela minha cabeça e pela minha capacidade intelectual e isso deixa-me um descanso ao coração - que tem uma fome parecida com a do meu estômago. Eu quero escrever em frases curtas, não me corrija o texto para torná-lo num tratado que não fala de mim ou por mim, não gosto de advérbios de modo acabados em -mente, nem de expressões como sendo que e gerúndios no geral, prende-se com, uma vez que e não gosto abusar das vírgulas.
De maneira que vou passar o rio.
E acabo isto a contrariar o objectivo que queria com isto.

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Apresento...

J. A. N. 
Estou fascinada com este senhor.

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

.....

Sim, estava.

domingo, fevereiro 07, 2010

Mesa de Estudo

Mãe, Maria e eu.

A minha vida é tão boa!

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Half Term

É isto. É mesmo isto.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Só porque hoje tive sol




Sooner or later...
...I hope it's not later

Ele sabe

Aquilo que os sentidos nos dizem ser Primavera é para Deus um pequeno e fugaz sorriso que percorre a Terra. Esta parece então lembrar-se de qualquer coisa que durante o Verão a todos contará, até se tornar mais sensata no grande silêncio do Outono, durante o qual apenas faz confidências aos solitários.

In R. M. Rilke, HISTÓRIAS DO BOM DEUS, história do homem que escutava as pedras

domingo, janeiro 31, 2010

a luz as nuvens a musica obrigam a bater claras em castelo espremer limões triturar corn flakes com manteiga e confiar que está tudo bem e que ao jantar a consistência estará certa.

sexta-feira, janeiro 29, 2010

de quando se começa a pensar em formato post, é sinal de que algo vai mal

quinta-feira, janeiro 28, 2010

a vida começa
a vida começa na fotossíntese

domingo, janeiro 24, 2010

saber estar
saber ouvir
saber esperar
saber pedir
saber rezar
saber consentir
saber perdoar
saber agradecer
saber calar
saber dar
saber querer
saber quando

Não necessariamente por esta ordem.

sexta-feira, janeiro 22, 2010

não me lembro

Theory of Knowledge #2

To come.

quarta-feira, janeiro 20, 2010

4 semanas não é igual a um mês.
Só se for Fevereiro.
E se for ano comum.

sábado, janeiro 16, 2010

Ponto 2.

Não deixo de me impressionar com a quantidade de coisas importantíssimas que me obrigam a parar de escrever:

- Pintar as unhas de encarnado.
- Ver se as janelas estão todas bem fechadas.
- Fazer mais chá.
- Fumar um cigarro para descansar.
- Ir ao frigorífico, para o caso de haver alguma coisa que apeteça.
- Ligar à mãe para saber se é preciso alguma coisa.
- Fazer um pequeno intervalo para ligar a televisão.
- Ouvir pela 5ª vez o CD que a M. me emprestou.
- E os outros 4 CDs.
- Postar no blog.
- Arrumar a secretária.
- Pensar no que vou vestir logo - para nada específico, confesso.
- Fazer listas de coisas.

Ponto 1.

Tenho sede de sol. Pode ser com frio, mas sol. Não me serve esta película que se agarra às coisas todas. O meu cabelo também agradece.

sexta-feira, janeiro 15, 2010

Podia ser isto


















Mas não é bem.

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Gostava de falar sobre

a aula de Theory of Knowledge que dei ontem e que adorei
os pacientes que consegui para a tese, pela Associação
o gravador novo e as cassetes pequeninas
a Carlinha, de quem gosto cada vez mais
a fidelidade ao Francês, que vai mais difícil do que esperava
o horário óptimo e inesperado no colégio
a possibilidade de trabalho para depois, também no colégio
a Fé, a Paz e a Procura
...

quarta-feira, janeiro 13, 2010

A cura parece dar-se pela estreiteza de memória. Contudo, apenas se observa o apagamento do sintoma, que, à mínima corrente de ar, pode surgir reforçado. Aconselha-se a tomada de consciência e racionalização. Em caso de persistência, afaste-se do frigorífico.

Theory of Knowledge

Check!

sábado, janeiro 09, 2010

estamos todos a precisar de umas boas horas de sono

terça-feira, janeiro 05, 2010

Ao contrário do que se pensa

querer não é o contrário de não querer.

domingo, janeiro 03, 2010

a miúda que lia o velho que lia romances de amor

sentada, quase deitada, no sofá profundo do casão, enrolada num cobertor mais pesado que ela. O que ouvia era alguma coisa entre a madeira a estalar na lareira enorme, o som das bolas de snooker umas nas outras, os tiros dos caçadores ao longe e o barulho da floresta tropical em que se envolvia na dormência da leitura.
O ambiente é difícil de descrever, é feito de fumo quente que entra na pele e aconchega o corpo das cinco da tarde. Aqui acabam de almoçar e começam a pensar no jantar. Os dias prolongam-se e adiam o recomeço. Não sai de casa sem um bom casaco de fazenda, aquele cintado com forro de xadrez, uma pechincha. Faz frio, o frio que apetece porque a lareira está acesa e antes de dormir partem-se umas nozes junto ao fogo e acaba-se o vinho do jantar.
Aqui há tanto tempo para preparar o tal recomeço que, na verdade, nem apetece (Precisas de férias das férias), que a solução é adormecer a meio da tarde, um bocadinho, com os cães aninhados aos pés.
Reler traz o problema de [não tenho tempo na vida para tudo o que quero ler na vida], mas o reler é voltar à troca de ideias com o pai - que lhe ensinou a literatura latino-americana.
Ela andava com vontade disto há uns tempos, tinha um plano bem definido - e foi diferente do projectado, tudo bem.

A força de um conceito


domingo, dezembro 20, 2009

...

quando é assim apetece-me entregar-me e deixar-me levar. não tenho forças para lutar contra a corrente.

e não é um descanso dos outros dias: é o peso do silêncio deles.

sábado, dezembro 19, 2009

A vida muda. Quando um Sábado de sol começa como o de hoje, então estou especialmente virada para pensar nestas coisas de mudanças de vida. Dá-me saudades. Não de nada muito concreto, mas saudades de um tempo qualquer em que os Sábados com sol serviam para fazer alguma coisa com todos, e os Sábados começavam de facto com todos. Isto é mais um traço de personalidade do que o acordar de hoje. É dia de café em caneca grande, um cigarro na varanda ao sol e sair de casa para ir andar por aí (não tão aleatoriamente como isso). Sou uma pessoa de hábitos, é tudo muito cíclico* - normalmente, pelo dia da semana em que estou, à vezes em ciclos não tão curtos, sei como é que vou acordar e como é que me afectam as coisas, como esta luz, por exemplo. Hoje é um dia muito bom para me deitar na areia outra vez. Vá, já chega. Tenho 17 dias inteiros pela frente.
* Cf. o histórico deste blog.

Un_certainty

quinta-feira, dezembro 10, 2009

sábado, novembro 28, 2009

Tempo: sem

As semanas acontecem com vento a passar-lhes por baixo e a levá-las mais depressa.
Parece não haver tempo para tudo o que está a vir - e cada vez me envolvo em mais.
E eu creio que se um de nós fosse martirizado, não pela Fé, que já tem bastantes mártires, mas pela Caridade, se um de nós subisse à forca ou à fogueira, em lugar, ou mesmo ao lado, da mais repugnante vítima, haveria de encontrar-se então sob novos céus, sobre uma nova terra. O pior velhaco ou o mais pernicioso herético nunca será tão inferior a mim como eu o sou em relação a Jesus Cristo.
In A obra ao negro, Marguerite Yourcenar, 1985.

domingo, novembro 22, 2009


Mais do que os quadros já postos na parede, há histórias novas para contar.

segunda-feira, novembro 16, 2009

As próprias ideias deslizavam. O acto de pensar importava-lhe agora mais do que os duvidosos produtos do pensamento em si. Examinava-se a pensar, tal como se contasse, com o dedo sobre o pulso, as pulsações da artéria radial, ou, sob as costelas, o vaivém da respiração. Toda a vida se espantara com essa faculdade que as ideias têm de se aglomerarem friamente como cristais, formando estranhas figuras vãs; ou crescerem como tumores devorando a carne que os concebeu; ou assumirem monstruosamente certos contornos da pessoa humana, à maneira dessas massas inertes que algumas mulheres dão à luz e que, em suma, não são mais do que um sonho da matéria. Uma boa parte dos produtos do espírito não passava também de disformes sombras lunares. Outras noções, mais claras e nítidas, como que fabricadas por um mestre artesão, eram, porém, como aqueles objectos que, à distância, iludem; imensamente admiráveis eram os ângulos e arestas; e todavia não passavam de grades aonde o entendimento a si mesmo se aprisiona, abstractas ferragens que a ferrugem da falsidade não tardaria a carcomir. Tremia-se, por momentos, perante a iminente transmutação: um pouco de ouro parecia brotar no crisol do cérebro humano; não se conseguia, contudo, mais do que uma equivalência; da mesma forma que, naquelas experiências grosseiras com que os alquimistas da corte tentam provar aos príncipes seus clientes que algo descobriram, não era o outro, no fundo da retorta, senão o de um banal ducado que, depois de correr de mão em mão, ali foi posto pelo alquimista antes da fervura. Tal como os homens, morriam as noções: vira, no decurso de meio século, várias gerações de ideias desfazerem-se em pó.
Sentia-se penetrar por uma metáfora mais fluida, produto de antigas viagens marítimas. Este filósofo que procurava abarcar no seu todo o entendimento humano, via, subjacente a ele, uma massa submetida a curvas calculáveis, estriada por correntes cujo mapa seria fácil de traçar, de fundas pregas cavada, pelas massas de ar e a pesada inércia das águas. Acontecia, com estas figuras assumidas pelo espírito, o mesmo que com aquelas formas nascidas das águas indiferenciadas, ora assediando-se ora revezando-se, à superfície do pego; cada um dos conceitos acabava por se desfazer no seu próprio contrário, da mesma guisa que duas vagas, ao tocarem-se, se aniquilam numa só e mesma branca espuma. Zenão ficava-se a ver fugir essa vaga desordenada, que consigo levava, como destroços, aquelas poucas verdades sensíveis de que julgamos estar seguros. Muitas vezes lhe pareceu entrever, por sob o fluxo, uma qualquer substância imóvel, a qual estaria para as ideias como as ideias estão para as palavras. Nada, porém, provava que tal substrato fosse a camada última, nem que uma tal fixidez não escondesse um movimento demasiado violento para o humano intelecto. A partir do momento em que renunciara a confiar de viva voz tudo o que pensava, ou a consigná-lo por escrito sobre a banca dos livreiros, essa privação obrigou-o a descer mais fundo que nunca, em busca de puros conceitos. Renunciara agora, temporariamente, a todos os conceitos em prol de um exame mais profundo; como quem retém a respiração, retinha ele o espírito, a fim de melhor ouvir aquele barulho de rodas a girar tão rapidamente que uma pessoa nem se apercebe de que rodam.
In A Obra ao Negro. Marguerite Yourcenar, 1985. Pp. 176-178

segunda-feira, novembro 09, 2009


Esperar não é perder tempo. Esperar é tempo.
É tempo que se transforma em sabedoria.

sexta-feira, novembro 06, 2009

Sexta-Feira II

É tudo cinzento e depois há rasgos de uma luz que cega.

segunda-feira, outubro 19, 2009

Apesar de tudo, talvez não esteja ainda preparada para estes dias de chumbo. Apetece-me o Inverno, mas não me apetece começar já a ter dores de cabeça: preciso de leveza.
Já comecei a estudar. Era o que me faltava. É por isso.

terça-feira, outubro 13, 2009

domingo, outubro 11, 2009

Vento II

Há um sítio aqui perto de casa onde o vento tem um percurso especial. Parece que foge, mas volta sempre ao mesmo ponto. É diferente do normal, este vento. Cruza uns arcos e brinca com as folhas que por ali andam, não conseguem estabelecer-se num bocadinho de chão: assim que se separam umas das outras para respirar melhor, vem este vento-criança e junta-as todas outra vez em montes, corre no meio delas a dar pontapés no vazio para vê-las voar. No corredor estreito que vai de um espaço amplo ao outro, esse vento tem quase vida e vontade. Eu gosto de ficar ali com ele um bocadinho. Entra-me nos ouvidos - já falei aqui do quanto gosto disso. É bom antes de ir dormir, às vezes acontece que consigo mesmo ficar de cabeça vazia - só com vento - e aí dá para dormir sossegada. Eu gosto muito de vento, de facto. Gosto das ruazinhas com vento. Gosto do meu cabelo com vento. Gosto de estar parada com vento. E de andar com vento. E da praia com vento - e uma camisola. E gosto do vento do lado de fora das janelas.
Eu gosto destas coisas.

domingo, outubro 04, 2009

quinta-feira, setembro 24, 2009

Hoje veio correio para mim.

terça-feira, setembro 22, 2009

Facto

Não há Silêncio que me incomode.
Em que um dia inteiro sozinha no Departamento me permite o meu próprio ritmo mas dá-me demasiado espaço para pensar em Tudo Isto
(JURO que não estou a inventar desculpas!).

sábado, setembro 19, 2009

terça-feira, setembro 15, 2009

Duas Palavras Preferidas

Canvas*
Maintenantª







* Tela, em Inglês
ªAgora, em Francês
É meramente fonológico.

terça-feira, setembro 08, 2009

Querido Avô

O que hoje começa é por si - e, por isso, para si.
Descobri imensas coisas desde então que nem imaginei serem possíveis, acho que ia ficar orgulhoso. Quem mais sabe disse: Você vai ser quem mais sabe sobre esse assunto. E quem mais sabe deu-me de presente o saber que não tenho de perder uma para evitar a outra. Não achava possível, mas é, imagine!
Vai estar comigo nestes tempos, mais ainda do que normalmente, vai ajudar-me a ver o lado mais Humano desta Ciência. Sim, acho que é isso.
É por si, Avô. Obrigada.
Vera

segunda-feira, setembro 07, 2009

Então é o seguinte

é voltar a casa e à vida retemperada e com as convicções reforçadas
é querer que o Caminho se manifeste em tudo de mim
é acreditar que recomeço diariamente e que afinal não é sozinha
é sentir que vou pela estrada certa e que há muito e bom que palmilhar
é encontrar o que traz alegria
é perceber que é mais simples do que eu pensava
é distinguir entre o que quero e o que me apetece
é dar uma oportunidade ao que pensei não querer mais
é isto.

quinta-feira, junho 25, 2009

Estou viciada nesta música





E, entretanto, não estou a estudar.

O Tempo

Hoje recebi notícias que me deixaram a explodir de contente. Não são minhas, mas são uma alegria, indiscutivelmente.
E depois disso fiquei a pensar nas coisas em que já andava a pensar mas não sabia. Só chamei a minha própria atenção para o facto de já estar a pensar nisso. Sempre, pois.
Porque o que penso todos os dias e digo todos os dias (hoje disse duas vezes a duas pessoas diferentes) é que a minha vida é um espectáculo! Mesmo! A minha vida, os meus dias, a minha casa, o meu trabalho que adoro, o meu curso, de que gosto ainda mais, e tudo o que vejo que está a vir ter comigo agora. Que, na verdade, não vejo, porque se olhar conscientemente para os tempos daqui a uns tempos, não há nada de definido a acontecer, não que nada esteja a acontecer nesse tempo, mas nada que eu possa prever.
Está tudo a acontecer mas tudo para acontecer, e isso é ainda mais maravilhoso, mas muito muito mais assustador, porque se um dia acordo e não me parece ter assim tanto para agradecer (e é inegável que esses dias existem), vou agarrar-me é ao "não posso prever", ao "não tenho nada definido" e ao "e agora?".
É essa a minha principal luta, e a minha força está em ganhar a esses dias.
Notícias como a de hoje dão-me a certeza de que estou realmente a fazer o meu caminho - no sentido de construir o meu caminho - e de que esse caminho é tão bom como este Agora em que estou tão deslumbrada.
Há uma parte de mim que é minúscula, ainda, que abraça todo este encantamento, talvez seja essa parte mais ou menos nova que me tira o outro medo, porque nada mete mais medo do que uma parte minúscula que abraça a vida inteira. E, caramba, tem uma capacidade de multiplicação que pode tornar-se incontrolável, mas que maravilha! E que medo. Enfim (possivelmente, foi só por causa desta parte minúscula que vim aqui escrever isto, acho que me apetecia escrever sobre ela mas não sabia como começar).
Ah, ia-me esquecendo: a minha vida é um espectáculo!

quarta-feira, junho 17, 2009

domingo, junho 14, 2009

Excuse me...

...Are you Mr Justin Bartha?

sábado, junho 06, 2009

O Bernardo e o Martim

O Bernardo e o Martim iam inventando brincadeiras enquanto a Mãe esperava na fila do supermercado, porque era Sábado e estava imensa gente. A Mãe respondia às perguntas deles com a descontracção de uma mãe de dois filhos, quase três. As pessoas à volta não conseguiam deixar de olhar e ouvir as perguntas daquele miúdo de cinco anos: Oh Mãe, sabe quantas ovelhas são precisas para fazer mil camisolas? Mil! E a Mãe: A sério, Bernardo? Uma ovelha para cada camisola? E o Bernardo hesitava um bocadinho, mas acreditava que a Mãe tinha razão - porque tinha sempre. O outro miúdo, o Martim, olhava distraidamente para as prateleiras cheias de cores mesmo ao pé das caixas do supermercado, mas nem refilava ao primeiro Não! da Mãe. Era muito mais independente do que o irmão mais velho, não fazia tantas perguntas e nem lhe ligava grande coisa. Tinha quase três anos, cabelo cor de palha grosso e óculos. Sempre que o Bernardo se chegava muito para cima dele, devia ser de propósito, dizia: Não me empuuurreees!!! E continuava a brincar sozinho, a falar sozinho, a interpretar todas as personagens das histórias que inventava. Cantava músicas e baloiçava-se nos ferros da caixa, com a Mãe a ver e o irmão a querer fazer o mesmo. - Não me empuuurreees!!! O Bernardo e o Martim não eram parecidos mas estavam vestidos de igual, e tinham dois anos de diferença. E a Mãe ia ter mais um bebé, se calhar uma rapariga, depois temos de ajudar a Mãe e não fazer barulho quando o bebé nascer, senão a Mãe fica cansada e quando fica cansada a Mãe zanga-se.
O Bernardo e o Martim deixaram uma série de senhoras nas caixas do supermercado cheias de vontade de ter filhos.

quarta-feira, maio 13, 2009

Há alguns dias em que me apetecia ter assim um botão de desligar em que só eu é que podia carregar, e podia carregar sempre que quisesse, que ninguém ia saber. Se eu quisesse, podia passar o dia inteiro on-off-on-off etc, conforme me apetecesse.
Sempre que eu quisesse, ou que precisasse, gostava de poder desligar o meu coração, assim só um bocadinho, porque às vezes parece que ele está vazio e perdido, e depois ligá-lo outra vez quando há coisas que querem entrar e não conseguem - e depois quando entram, ocupam o espaço todo do coração e todo o espaço ao lado dele, e eu sinto-me pequenina demais para tantas coisas, parece que não cabem.
Nestes dias de ultimamente, em que quando saio de casa não sei se hei-de usar botas da chuva ou óculos de sol, em que chove ao mesmo tempo que faz sol e em que a luz fere os olhos mas nunca é suficiente, dava mesmo jeito esse botão que estou a pensar inventar. É que há dias em que essa chuva e esse sol que não se decidem entram dentro desse coração e trazem as coisas com eles, e eu não consigo decidir se aperto o casaco ou se prendo a camisola à cintura.
Há assim uns dias em que parece que o meu coração se transforma em pulmões e respira, ora fica muito muito pequeno e dói um bocadinho, ora fica cheio cheio e também dói, mas de outra maneira.
Quando é assim, gostava de poder sentar-me na bordinha do passeio, ouvir a música que inesperadamente está por ali, não pensar em nada nem sentir nada nem querer nada nem precisar de nada - como fiz hoje ali em cima.

quarta-feira, abril 15, 2009

Querido Deus

Hoje, de presente de anos, gostava de ter Sol. Um sol quentinho para poder usar o vestido de alças e estar ainda mais contente pelos 24. Sff.

Obrigada, e obrigada por hoje
Vera

terça-feira, abril 07, 2009

Sim, eu sei que a culpa é minha.

Estou presa ao que acredito ser a vida e não consigo ver para lá disso?

terça-feira, março 24, 2009

Pois, não sei. O que eu acho é que invento umas coisas à volta de outras coisas, não sei se é para me fazer de interessante ou se é mesmo assim e pronto. Mas complico facilmente o que nada tem de complicado, ou se tem não me envolve ou não me afecta - não?
Faço sempre uns desenhos mais ou menos abstractos e mais ou menos românticos, quase dramáticos e catastróficos à volta de um ponto muito pequeno. E o que acontece depois é que, quando finalmente consigo ver com alguma clareza o que foi claro o tempo todo - menos para mim - percebo que fui mais ou menos exagerada, ingénua e sinto-me parva, sinto que o mundo inteiro olha para mim e me vê quase pedante, porque dramatizei e envolvi-me num enredo que não existia. A seguir passo às explicações, que só vêm complicar ainda mais a minha frágil posição de miúda com carácter novelesco - podias ser guinista, miúda, escreverias uns bons diálogos, pega neles e passa-os para o papel, logo se vê no que dá.

domingo, março 22, 2009

quarta-feira, março 18, 2009

Decisão

Chega de escuro, a partir de agora é luz. Já não chove - por agora - e há sol todos os dias, brindo a isso! Esta é a minha manifestação. Tenho medo do escuro, por isso não poderia fazer mais sentido. Sol.

terça-feira, março 10, 2009

Herança

Depois disto tudo, entro num ritmo diferente - não novo, só diferente - dos dois dias anteriores.
Deixo-me embebedar num verde e num espaço que redescubro em cada semana, em cada dia, até. Não percebo se é uma espécie de bálsamo, uma espécie de... mood raiser... parece que é só ligar a luz e a luz volta, como é que me explico que possa passar em menos de um segundo de uma coisa a outra é que já não sei. Sim, é a luz e o verde, e o privilégio deixado por quem tão bem sabia que era só ligar o interruptor... Podíamos ter falado tanto sobre isto. É que com o privilégio numas coisas também ficou o medo noutras, e a espectacularidade é a outra face: tenho dois dias para decidir se vale a pena perder uma para evitar a outra - memória curta como sintoma? Privilégio, sim, posso começar por aí. Há alguma coisa de especial na lente que me foi deixada em herança e que me permite ver a outra herança, a física, como um Dom, como o Milagre. Até que ponto é que posso escolher o Dom e manter a lente - o filtro? Uma perda de energia tão forte tem de ser compensada com um descanso - Vera, acorda, não há descanso nessa pausa: lembra-te como não dormiste, mesmo querendo. O gasto de energia é imenso e invertido, não parece?
Mesmo tudo isto, esta confusão e ondulação, posso considerar privilégios, se souber gerir. Mas a definição é: in-gerível. É disso que gosto em mim. Está sol e calor e apetece-me submergir uns minutos. Só para lavar um bocadinho estas ideias confusas e poder entrar no que me é permitido pelo privilégio. O meu legado é quase só genético. Mas não só, e essa é a subtil marca de água que me liga e desliga. Nunca tinha pensado nisto desta maneira, mas gosto, sim gosto. As minhas manifestações são diferentes das suas, ou talvez nem tanto, eu tenho um lado subterrâneo bem mais subterrâneo que o seu, mas o espaço aberto é igualmente manifesto. E por isso, obrigada, a. D. Por tudo. Sim, por tudo.

domingo, março 08, 2009

SHIT

It's all coming back.

quarta-feira, março 04, 2009

Apaixonada. Completamente apaixonada. Perdidamente apaixonada. É conquista cada passo, cada dia. Acordar é abrir muito os olhos, esticar os braços e abraçar. Ouvir. Cheirar. Agradecer. Não sei o que espero, mas espero tudo. Quero dar, dar, dar. E receber o pouco - mas o pouco é tanto! Música nas ruas ou na minha cabeça, cantarolar baixinho no caminho para o Metro. Olhar para cima, não para os passeios. Ver janelas onde é possível reinventar toda uma história para esta História. Parece que sou pequena para abarcar tudo. Sou muito mais pequena do que eu, sou menos do que tudo isto. Descubro o Novo a toda a hora, nem sei mais onde cabe tanta coisa. Tenho medo, também, claro que tenho medo, faz parte do que é isto.
Dias e noites e cores e músicas e pessoas e brilho e aprendizagem e nuvens e calor e água e eu e sabores e experiências e ideias e livros e viagens e amor e vinho e danças e abraços e linguagem e vontades e medos e plantas e cozinhados e presentes e janelas e fotografias e ondas e café e sacrifícios e respeito e verde e calma e esperanças e quereres e euforias e espontaneidade e força e mergulhos e frescura e eu e tu.
Estou apaixonada. Perdidamente apaixonada pela minha vida.

domingo, fevereiro 22, 2009

Para: MG.

Está sol na rua lá em baixo. Não há como acordar numa casa onde o sol entra indecentemente pelas janelas. Estes últimos dois dias estiveram cheios de muito mais dias do que toda a semana passada. Andar para cima e para baixo nas ruas com carris e poucos carros, onde os fios do eléctrico cortam o céu azul destes dias de céu azul em triângulos aleatórios. Good morning; Buenos días; Bonjour. Jogo com um falso conhecimento de internacionalizações que não tenho mas gostava. Eles gostam desse jeito desajeitado de miúda decidida, que sabe o que está a fazer, mesmo não sabendo. Refilam, mas acham piada.
Cheira à caneca de café em cima da mesa da cozinha e a musica no Ipod pela casa tem claramente a forma de ondas em propagação. Se ainda fumasse ia pegar nessa caneca e apanhar o sol da varanda e fumar um cigarro, mas vai ter de ficar para outra vida, parece-me.
Tenho tanto em que pensar e tanto que fazer sem pensar no que não me sai da cabeça, há demasiadas coisas a acontecer ao mesmo tempo, coisas que não são compatíveis umas com as outras e que me deixam de rastos pela impossibilidade de as cruzar! Já descobri como é que faço para pensar nas coisas separadamente: basta retirar a componente inteligência/cognição/racionalidade para chegar ao ponto emocional a que quero. Como é que faço isso? Jogos no telemóvel. Ou no computador. Daqueles básicos, de encaixe mas sem a mínima estratégia. Ridículo, eu sei. Depois é só tomar alguma atenção ao que flui, mas uma atenção discreta, como uma mãe que espreita da porta do quarto um filho pequeno que brinca sozinho e desempenha em voz alta todas as personagens da brincadeira - para que esses pensamentos não fiquem envergonhados e se mantenham por aí.
Só escrevi este post absolutamente non-sense porque uma pessoa, que possivelmente não existe, me disse para o fazer. Cá está.

terça-feira, janeiro 06, 2009

Léxico

Palavra Nova: PICTÓRICO.
A Palavra não é exactamente nova, mas o uso é. E como diz o J., aprender uma palavra nova é activar um conceito novo, e isso enriquece o discurso porque podemos explicar alguma coisa que até aí não podíamos (ou talvez pudessemos, mas não tão accurately - preciso de encontrar um equivalente em Português que seja tão rico como em Inglês).
Esta palavra nova deu-me o conceito exacto de que estava à procura para explicar o que me acontece quando digo que imagino muito as coisas - imaginar no sentido de criar imagens, to picture.
Ano Novo - Conceito Novo!

Propósitos 2009

Mãe - O Afonso tem de ser mais arrumado!!!
Afonso - Oh Mãe, mas eu não sou um brinquedo, para ser arrumado!

(25 Dezembro 2008: Afonso 3;6)

quinta-feira, janeiro 01, 2009

125g por dia

Olá, Bom ano.

Não gosto especialmente da ideia de escrever posts de Ano Novo, mas gosto da ideia de escrever, e se é para aí que estou inclinada, há que aproveitar!

O António RA disse-me: Ano Novo Vida Igual. Talvez esteja certo, ok. Mas Ano Novo, Ano Novo. E a verdade é que temos pela frente 365 dias novinhos em folha, por estrear, ainda brilham. E o que é que se faz com 365 dias novos por estrear? Vive-se; usam-se.

Podemos facilmente usá-los todos de uma vez; como se fossem Smarties: são imensos, iguaizinhos e sabem todos ao mesmo, por isso é só abrir a boca (o coração) e deixá-los escorregar. Acabam-se num instantinho. Chegamos ao fim da caixa (do ano) com a sensação de que podíamos ter feito melhor. Podíamos ter parado para ver as cores dos Smarties, comer cada um de maneira diferente, nuns tirar a capinha de açúcar e comer o chocolate sozinho; noutros, partir ao meio longitudinalmente e comer uma metade de cada vez. Basicamente, podíamos ter pegado em cada um e pensar minimamente no que fazer com ele. Olhar à volta e ver que podíamos tê-los dividido com quem ali estava, e assim iria saber muito melhor, e não enjoar tanto no fim.

Também podemos pensar num ano de 365 dias como numa tablette de chocolate preto Cote D'Or. É preciso olhar para ela antes de nos atirarmos de cabeça. Perceber qual é a percentagem de cacau, porque há uns muito fortes: avaliar se estamos com estômago para tamanha potência. Com calma, podemos abrir o papel: não vale a pena estragar a prata de dentro, às vezes pode dar jeito. Depois disso, partimos a primeira fila e daí, o primeiro quadradinho de chocolate. Quando começamos a saborear um quadrado de chocolate preto com 70% de cacau, não podemos estar a pensar já no próximo. É importante SABOREAR. Sentir a força do cacau, deixar que o chocolate perca tempo na nossa boca. Podemos perfeitamente ler um capítulo inteiro de um livro durante um quadradinho de chocolate. Também podemos pensar em cada um dos 365 dias de 2009 como um espaço para nos lermos a nós mesmos, dar a cada dia uns minutos para pensar no que foi e no que vai ser o próximo, onde é que cada dia nos liga a Nós e a Alguma coisa mais, o que é que demos e o que conseguiríamos melhor. O segundo quadrado da fila que escolhemos podemos até passar às pessoas que lêem livros ao nosso lado: deixá-las também demorar-se no nosso chocolate (o dia). Aprender com elas que o cacau é extraído de determinada planta, em certa estação do ano num país longínquo. Ou o que quer que seja da experiência que tenham de chocolates.

Parte de nós. Somos os únicos a decidir se queremos engolir os Smarties e esperar impavidamente pela próxima caixa, ou se queremos provar um chocolate mais forte e, por isso, mais difícil, mas do qual podemos mesmo guardar metade para mais tarde, com mais calma ou outras pessoas, outro livro ou outra luz.

Somos os únicos a decidir se os próximos 365 dias vão ser um passar de tempo simplesmente, ou se vamos aprender alguma coisa com eles, dividi-los com alguém(s), pensar e saborear cada dia, por mais difícil que seja - saber tirar o melhor proveito de 70% de cacau - e saber Agradecer.

Tenho o melhor feeling para este ano, começou da melhor maneira, da mais consolidada.

Bom ano!



§Dedico este post à Rita C.§

sexta-feira, agosto 08, 2008

In a Greek mood

I've heard what you said. I've heard it and learned it. You talk about love. Love is general, you say. You love every single person and thing the same way. Love is above us, right? Then how do you differenciate between that woman you love and that one over there you're seeing for the first time? How is that love different!!? It isn't. The Love is the same, I love them the same exact way! Sorry, I don't understand... Why do you want to be with this one, why would you care about her? What made you cry when she left?? You see, love is general, but it's not the only thing. I found someone with whom I communicate, someone I respect and and I trust. Those are the three bases for a relationship.






This is why I'm so happy for her!

sexta-feira, julho 04, 2008

Preciso de escrever, preciso desesperadamente de escrever, mas estou demasiado..... normal. Normal não é bom, desenganem-se. Normal é normal, e normal é ausência de bem e de mal - apesar de conter mal - e ausência é vazio. E eu em vazio não funciona, desculpem lá. Normal, acima de tudo, não é bom. Porque se a minha vida está Integrada, isso não quer dizer que esta separação dos campos diferentes - uns bons, outros péssimos e outros normais - seja necessariamente boa ou preenchente. Foi muito rápido que isto se passou, e passar tão depressa ao normal não é algo a que esteja habituada ou para que esteja preparada. Contava com mais uns dias de miséria para poder engrenar num normal que fosse bom. E se significar simplesmente que nada significa? Não é nisto que eu acredito, como é obvio, as manhãs não são fáceis, mas depois há horas do dia e guiões a seguir que tornam o resto do dia normal. Não estou formatada, isso não existe em mim, mas se não seguir os guiões depois não sei se posso ou não apurar. Há mais, muito mais, que eu queria apurar, não só em mim ou a mim, mas a algo maior e mais fora do resto do que alguma vez esperei. Não é a mim mesma que considero especial, mas à minha capacidade de julgamento e entrega, só não percebo porque é que não pode ser partilhada. Entrega não partilhada? Que falta de sentido, claro, só podia ser assim. Estou calma e equilibrada, mas isso é só porque estou normal. Não julgo, porque sei que não é só a mim que afecta esta normalidade estúpida. Só acho é que isso também é partilhável e contorna-se facilmente, só é preciso entrega. Entrega. Palavra horrorosa, até porque não existe e não significa nada que seja real. Chega de voltas e voltas à volta de um assunto que está mais do que falado e enterrado em equilibrio normal que eu não quero e não gosto. Alguma coisa há-de acontecer e abanar esta languidez que eu detesto e não conheço e não quero para mim. Não sou a única a não querer, isso é mais que claro, finalmente alguma coisa que faz sentido. Faz sentido e isso ajuda, já não é mau. É simples e passa depressa, mais depressa do que se esperava ou do que queria. Não faz mal, é normal.

segunda-feira, junho 16, 2008

Teoria da Vida Real ou De Como Facilmente Se Consegue Transformar o Estudo Para Um Exame Em Qualquer Coisa Que Não Chateie, Antes Pelo Contrário

As the term is used here, Happiness is an overall evaluation that exhibits some measure of stability over time, though it is strongly influenced by environmental events and responsive to therapeutic events. Taken together, it is generally accepted that happiness refers to a subjective and global judgment that one is experiencing a good deal of positive emotion and relatively little negative emotion.


In
Cropanzano, R., & Wright, T. A. (2001). When a “happy” worker is really a “productive” worker: A review and further refinements of the happy – productive worker thesis. Consulting Psychology Journal, 53, 182-199.

terça-feira, maio 27, 2008

Tim and Pamela were the beautiful polish children of a polish musician, called Sebastian. The day they flew towards Birmingham was the first day their father cried. Since then, no piano plays in the city of Gdansk. Tim wanted to be a doctor, but he became a civil engeneer. Pamela always dreamt of being a student, today, ten years later she is.
When they were ten years old they used to climb a huge tree, an oak, where they once found a little bird nest. Three small round eggs were there, and Pamela screamed in the exact second they fell from the tree. Tim remained silent. After that, distance.
On the top of the hill, between an old pagan castle and a romantic two-colored palace these polish adults decide for themselves never to be apart again.

sábado, maio 24, 2008

Music Box

Não sou a pessoa certa para criticar música. Já houve quem tentasse incutir-me alguma coisa mas parece que fica sempre pelo caminho. Mas sei falar sobre pessoas, sei falar sobre movimentos e sei falar sobre sensações. Chega de sentimentos, por hoje são mesmo sensações.
Sexta à noite para quem mudou tanta coisa em tão pouco tempo pode ser um problema. Mas deixa de ser um problema quando uma mana (entre aspas, mas eu odeio aspas), convida para programas que não há com outra gente. Music Box às 23h30, com dois açorianos cerrados para ouvir Phoebe Killdeer - para quem não sabe, é uma das vocalistas dos Nouvelle Vague. Estava com uma certa graça, aquele ambiente, uma mistura grande de gentes e géneros, não é isso que a boa música promove? Durante cerca de uma hora e meia uma pequena mulher de franja e olhos esbugalhados deixou uma pequena multidão em êxtase. Não só ela, mas também três homens altos, franceses, cada um escondido atrás de um instrumento - de mencionar o baixista, cabelo inacreditável, calças de cabedal inacreditáveis e camisa de brilhantes inacreditável, em inacreditáveis saltos e maravilhas acústicas. Não, de facto não sei avaliar música suficientemente bem para me atrever a fazê-lo publicamente, mas sei explicar que as endorfinas que me correm agora por aqui são filhas dessa música, de uma libertação de articulações e constrangimentos, da energia viva. E gostei disso, gostei dos movimentos livres dela, gostei da música, claro, gostei da atitude de Diva Can I have the lights off, please? All the light! Thank you. Gostei de um pequeno Thunder-maker e de vários instrumentos desconhecidos, gostei do cabelo dela e gostava de ser como ela. Também gostei que dois gins me tenham ajudado a conversar em francês com o baixista e com o baterista-homem-dos-meus-sonhos-francês.

THANK GOD

A cretinice pega-se.
A inteligência também.

sábado, maio 10, 2008

É nesta estrada que me encontras, sabes disso e tomas rumos diferentes. Afastas o teu caminho do meu, não te censuro. Aceitar. Não é fácil, mas aprendo a aceitar. Aceito os dias de chuva como aceito que o dia tem 24 horas, menos do que as que preciso. Aceito que não somos iguais, tu não és eu e eu não sou forte como tu. Ou não sou como tu, simplesmente. Aceito que o amor não é fácil, de dar nem de receber e, menos ainda, de aceitar que não exista. Sou o que fazem de mim as tuas distâncias, os teus regressos intensos e, já sei, não tão sentidos como gostaria. Sou a espera por esse teu cheiro que fica semanas depois de ires, partículas da tua pele que não saem da minha - e eu não quero. Vais e voltas, voltas sempre. Mas nunca sei quando ou por quanto tempo ou porquê. Nunca sei por que voltas, uma tão presente ausência tem botão on-off? Eu não tenho. Não me esqueço de ti e não me esqueço de nós, apesar de tentar. Não sei o que é Nós, sei que é absurdo pensar assim, não me percebes mas achas que sim. Não, não percebes. Não fazes uma ideia do que é ser eu, não sabes o que sinto nem porquê, e se tento explicar, tens mil e uma coisas a dizer sobre isso. Não consigo relaxar. Não me chega um banho de imersão a escaldar com vinho tinto e um cigarro - não estás, por isso não conta. É nos meus livros que te procuro - e chego a encontrar. É nas folhas dos passeios e na chuva em telhado de vidro que me diz que este sol não é quente e este dia não acaba assim tão facilmente. Porque são horas que se arrastam numa caixa de fósforos e beatas no cinzeiro, o chão de madeira a estalar ao fim do dia e a cadela que se espreguiça na relva. Não te procuro mas não sei dizer-te que não. Tens esse estranho poder sobre mim, e cada vez que penso que para a próxima vez não vou ceder, chegas devagarinho, em bicos dos pés para não me acordares e enroscas-te em mim, tiras-me o cabelo da cara e respiras, respiras sempre, acordas-me de propósito com o ar que te enche os pulmões e volta para a almofada. E se acordo e me sabe bem ter-te, sei que já não descanso porque não deixo de pensar que agora estás mas és volátil, vais embora antes que tenha tempo de esticar os músculos e abraçar-te. Às vezes penso se serás real, se não és só um qualquer trick of the mind, mais uma das personagens da minha imaginação incansável. Vais dando notícias na distância, é isso que te liga à realidade, só assim sei que existes mesmo quando não existes comigo. Love me or leave me.

quinta-feira, maio 08, 2008

Insónia

Era uma vez uma miúda. Essa miúda vivia dos Sonhos. Acreditava no poder dos Sonhos. Mas não daqueles sonhos de quando se está a dormir. Nesses não acreditava, até porque não dormia muito bem. Acreditava que os Sonhos se tornavam realidade. Tinha uma imaginação fácil, esta miúda. Tinha ideias para ser feliz, todos os dias encontrava um novo caminho, mas não há caminhos sem pedras, e parecia que a miúda não sabia levantar os pés. E desanimava. Dava pontapés nas pedras e claro que elas não se mexiam. Só a magoavam. Esta miúda acreditava nas pessoas. Amava profundamente a raça humana e sentia-se no direito de ser amada. Havia dias em que olhava à volta e aquelas pessoas que tanto amava eram pedras distantes. Os Sonhos eram pedras. As pessoas eram pedras. Até que um dia esta miúda, que tanto sonhava, tanto acreditava, tanto amava, sentiu um CRACK lá dentro. Qualquer coisa se partia. Ou não. Qualquer coisa solidificava. Olhou para as mãos e elas ganhavam um peso e uma textura estranhos, ela não conseguia levantar os braços com o peso, qualquer coisa os puxava para baixo. Quis fugir. Levantou um pé para começar a correr. Não conseguiu. Sentiu uma onda de frio subir por si acima, um frio entre a pele e os ossos, e o som de qualquer coisa a estalar. Sentiu os músculos a endurecer, o cabelo a perder o movimento. Até que deixou de sentir. Era uma pedra-miúda, que um dia tinha sonhado e acreditado e amado. Era uma pedra.

sexta-feira, maio 02, 2008

terça-feira, abril 22, 2008

Sábado à tarde

Gigante de pedras. Jardim. Casa na árvore. Fruta. Baloiço. Infância. Família. Fins de tarde. Chá com scones. Hotel. Estrada. Parque. Praia. Medos. Escuro. Medos de escuro e de monstros. Comando. Cães. Santo António. Pés-de-gato. Dia de anos. Escadinhas. Convento. Pôr-do-sol. Luzinhas à noite. Atelier. Fins-de-semana. Duche frio. Água. Mina. Fontes. Herança. Cerveja. Mangueira no jardim com cinco anos. Saibreira. Mesa de jantar. Verde. Azul. Rochas. Musgo. Dióspiros. Caseiro. Humidade. Lareira. Revistas. Amigos. Todos. Noites. Envolvimento. Teatro. Oeste. Atlântico. Ondas. Frio. Sol. Cadeiras de jardim. Poetas. Dramaturgos. Romântico. Artista. José Maria. Seculo XIX. Amor e tragédia. Inverno no Verão.

segunda-feira, abril 21, 2008

Vem...

...Dançar comigo à chuva, enquanto as mariposas voam.

sexta-feira, abril 04, 2008

Sexta-Feira

Pensas demais. Não estás a viver a tua vida, estás a pensá-la. Racionalizas cada passo que dás, qual é a espontaneidade? Pensas demais. Qual é o mal se é pouco intenso? Qual é o mal se não tens tempo? Constróis uma estrada que não sabes se é a tua e sentes que, pedra sobre pedra, és só tu que a percorres. A estrada é tua. A vida é tua. Quem queres contigo? Estás a pensar sobre isso? Pensas demais. A culpa é tua se acordas às 5h30 sem sono. A culpa é tua, porque não te impedes de pensar e repara como pensas sempre a pior perspectiva. As coisas correm bem, és tu quem vive o momento certo, só não encontraste ainda quem constrói estradas paralelas à tua. Eles existem e olham para ti com a condescendência de quem sabe o que pensas, conhecem essa cara que fazes a uma hora certa da manhã e sabem que há um momento em que, sem sentires que acomodaste, esta vida te faz feliz. O teu problema é que, enquanto não se dá a transformação, vais continuar a pensar e pensar e pensar e nunca vais conseguir ver esse assentar como uma não-acomodação. E terás de mudar. Sabes isso, não sabes? Mas estás tão ancorada a um mundo - farás realmente parte dele? - de adaptação fácil e redes que te prendem irresistivelmente, porque preferes, não tu especificamente mas essa raça que conheces, um dia atrás do outro, um arrastar biográfico sem grande esforço, de dias que correm como gotas de água presas num fio. Lembras-te? Também a esse mundo foste incapaz de uma entrega, vê o teu próprio desconforto numa cadeira, já não tinhas posição. Lembras-te? Mudas a cada esquina e o que queres é tanto e tudo, que não andas em frente, a tua vida é uma sucessão de curva-contra-curvas. Qual é o problema!? É que o teu tempo é o mesmo de toda a gente, mas demoras muito mais a chegar a algum lado.
E o esforço é muito maior.

quarta-feira, abril 02, 2008

Quarta-Feira

Quatro horas depois levanta-se e suspende a sessão. Passa pelas portas de vidro e digita o código. Dentro da sala com o ar condicionado ligado não se percebia que o dia estava tão quente e nem apetece fumar. O flash do sol nos olhos fá-la hesitar e arrepende-se de não ter trazido os óculos, mas enfim, chegou a Primavera e isso não é razão para se queixar; olha para a esquerda e para a direita e não vê nada, mas sabe que há o que ver. O rapaz está sentado na rua, cabelo molhado curto, uma camisa de verão com pingos nas costas. A imagem é fresca. Sete minutos a pé e encontram uma relva muito verde, mais verde que a camisa de verão pingada e miudinhos a fazer corridas e cambalhotas. Homens e mulheres de passagem, máquinas fotográficas disparam não se percebe bem para onde. Mas a sombra vai chegando, os minutos vão passando, e no meio de gargalhadas e dentadas la fica decidido que é tempo de ir, a sombra está muito escura porque a cabeça estava ao sol. E depois o caminho de volta, saber que faltam mais quatro horas sem sol, só o ar condicionado, mas os dias estão mais compridos, ainda há sol ao fim das quatro horas. E dores de cabeça o resto da tarde, porque o sol faz isso. E a pele arde porque a relva pica. E passa um bichinho no meio dos contratos. Mas havia sol. E mais, muito mais.

sábado, março 15, 2008

Brunch for One

- Dois ovos
- Algumas fatias de queijo
- Três fatias grossas de fiambre
- Meio tomate
- Azeite aromatizado com alho
- Sal grosso
- Uma manga
- Um litro de água
- Folhas de Chá Verde




Bate-se os ovos com uma pitada de sal fino e reserva-se. Passa-se cada uma das fatias de fiambre pela frigideira escaldada, não mais que dez segundos cada. Corta-se o tomate em fatias finíssimas, tempera-se com sal grosso e azeite. Lava-se bem a manga e corta-se metade, mesmo com casca. Deita-se os ovos numa frigideira, sem mexer, junta-se as fatias de queijo no meio e dobra-se a dois terços. Ferve-se a água e junta-se as folhas de chá verde, deixa-se repousar durante cinco minutos.
Sugestão: se tiver cogumelos frescos, pode salteá-los com manteiga e servir em torradas muito fininhas.

Serve-se com o jornal da manhã, na varanda, depois de uma caminhada de 45 minutos em passo rápido. Café opcional.


Bom fim de semana.

sexta-feira, março 14, 2008

Hoje foi um bom dia para

Acordar às 7h.
Andar de comboio com o sol a nascer.
Vestir uma saia.
Ter dois dias acumulados de e-mails para ver.
Almoçar na sala fresca.
Rir às gargalhadas.
Saber que não sou a única contente com o meu trabalho.
Sentir o Amor da G.
Descobrir que qualquer coisa mudou. Descobrir, não. Assumir.
Sair mais tarde porque há coisas para fazer.
Ir buscar os sapatos que estavam a arranjar.
Sorrir a um estranho no metro.
Andar no Chiado.
Escolher andar a pé em vez de metro.
Ver o sol na Rua Garrett.
Ter de me desviar de pessoas.
Olhar para dentro de um prédio em recuperação.
Ver que a Primavera está a chegar na forma de Jacarandá.
Ouvir umas pessoas a falar francês no comboio.
Não mudar de vida, mas adaptar o que tenho ao que quero.
Começar o fim-de-semana sozinha em casa.
Fazer bolachas.
J'aime bien quand tu parles en Français avec moi. C'est l'effort, la validation, c'est la memoire de ma vie a Paris.

sábado, março 08, 2008

Uma dor que não é dor - é vazio.
Vazio outra vez, estou de volta a qualquer coisa que não conheço. Mas este vazio é diferente, já reparaste? Vem cheio de um espaço que tem espaço lá dentro. E se tento perceber, fora do tempo que não tenho, de quem é este espaço, descubro que o espaço é só meu, de ninguém mais. Não conforta. Não aquece. Não tem um abraço nem um ombro onde me posso encaixar. Não me protege, nem de mim, nem da vida que parece que tenho agora, nem do frio de que me vesti. Comecei com "Uma dor", mas não será antes uma não-dor-nem-prazer-nem-nada-que-preencha?
"Vives para ti, estás a construir o teu caminho". Não sei se quero construir um caminho que vou fazer sozinha, talvez prefira não conhecer as curvas, pode ser que numa delas estejas tu à minha espera, mão estendida para me ajudar a subir. Tu, quem? Pois...
Tenho uns sapatos novos de princesa. Mas as princesas também têm bolhas nos pés, e também sofrem ao fim do dia por causa dos saltos altos, principalmente as que vão de metro para o emprego. Porque é uma dessas que quero ser, acho eu, só não quero é usar saltos altos porque me obrigam. Só porque sabem que magoa. Eu não sei porquê, mas julgo as pessoas pelos sapatos. Desculpem as pessoas que não sabem calçar-se, é uma espécie de compulsão, acho eu. Os meus sapatos definem-me (já não são só 33 pares).
Faço bolachas de aveia porque fazem bem à cabeça, mas enquanto espero que saiam do forno e a casa cheira a massa de bolachas, não consigo pensar noutra coisa. Posso fazer bolachas para ti, se quiseres, acho que ias gostar. Não vale a pena, não ias valorizar o gesto, ias achar infantil e desajustado, não estou para me sujeitar, desculpa. Tento outras maneiras de chegar a ti, e sei que nenhuma delas é francamente verdadeira, em nenhum desses meus planos sou verdadeiramente eu.
Aproveito a tarde sem sol para ir ao cinema sozinha, "estar comigo".... Mais ainda? Mais comigo? Começo a fartar-me da minha companhia, é mais suportável quando posso partilhá-la com alguém. Ninguém me conhece como eu, é pena. É pena. Oito horas por dia não chegam para me conhecerem, e se não tenho tempo para mais, a culpa não é minha. Agora que os meus dias se definem numa rotina 24/7, o meu mundo ficou para trás, não pertenço aos meus espaços, se pensar bem, não são meus (quero que sejam?). Acho que o meu Mundo não está sequer neste hemisfério. Não sei, não sei.
Mostrou-me a Lea:


Jovem de olhar inocente
Procuro-te no meio da multidão
Mas tu não reparas,
Pois nao sabes que deténs as rédeas
Da minha alma.

Anacreonte

sábado, janeiro 19, 2008

Hoje, só hoje

Foi hoje. Aconteceu hoje, sem eu poder controlar, sem sequer perceber que ia chegar, foi hoje. Foi a ler. Foi a lembrar-me do muito que não vivi por lá, nessa terra de gentes frias e magras, homens e mulheres da mesma altura, de rio em todo o lado, e pontes mil. Foi a pensar que um mês e meio não é viver em lado nenhum, que por muito que tenha querido convencer-me, não pertenci àquelas ruas, não fui um deles, porque sozinha não fui ninguém e nao fui a lado nenhum. Foi a lembrar-me que desde lá, desde que voltei de lá, não havia, e fazia-me falta. Uma parte do que sou agora é exactamente isto, ou a ausência. A falta de alguma coisa pode só ser notada quando ela volta? Foi hoje, mas não posso dizer que tenha voltado. Apareceu, só, por um bocadinho, só, mas foi-se embora outra vez, e enquanto escrevo isto, talvez já não faça sentido escrever, porque já não é. Já não é.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

E ao mesmo tempo que sentia não pertencer a lado nenhum, tinha uma necessidade enorme, incontrolável, de ir desaparecendo dos sítios para ir para outros sítios. Duravam cinco dias a uma semana, estas saídas, e normalmente não avisava e não dava notícias. Porque eram estes afastamentos inexplicados e não reportados que lhe davam a sensação de isolamento. Quando voltava, tudo estava na mesma, menos a sua posição no grupo. Não se sentia só quando lá estava, mas bastavam 3 dias longe para que deixassem de sentir a sua falta. E isso era assim em todo o lado, mesmo nos esconderijos. Mesmo em casa. E não é que sofresse, já era um hábito, mas se pensasse nisso, se durante uma insónia se pusesse a pensar nisso, sabia que sofria. Só podia sofrer, ninguém aguenta sentir-se dispensável. Mas continuava a fazer tudo como antes, como sempre. Não dava grande atenção a ninguém que não fizesse parte do dia-a-dia imediato, mas não era falta de Amor. Simplesmente não sentia a falta de ninguém. Nem mesmo das pessoas mais óbvias. Declarava essa falta, na verdade, mas não a sentia. E não era de propósito, era um desprendimento de quem não quer sofrer, pensava. Não pertencia a lado nenhum porque os laços que criava podiam até ser intensos num primeiro momento, mas acabavam por enfraquecer, talvez devido aos seus próprios desaparecimentos. Ligava-se demais às rotinas que encontrava em cada sítio para onde ia, mas facilmente se desprendia. A vida sem âncoras onde voltar não deixa de ser uma vida solitária. E ninguém quer estar sozinho. Bem, pode ser que haja quem queira, Talvez quisesse, mas na verdade não o sabia. Na verdade não o sabia. A vida tinha sido fácil, nunca verdadeiramente perdera ninguém, mas não se dava, não se ligava. Sempre acreditara que sim, via-se como uma pessoa com muito para dar, via-se com alguém para a vida inteira, acreditava que se apaixonava com a maior das facilidades, mas a idade mostrou-lhe que não. E sentia falta desse vazio de quem sofre ou perde por Amor, mas que é um vazio preenchido pelo que sente. Durante meses orgulhou-se da incapacidade de amar. Chamava-lhe antes Controlo sobre o Amor. Mas com o tempo percebeu que não. Incapacidade de amar. E com o frio deixou de ter piada, deixou de ser um controlo de si aprendido numa noite gélida de Junho, com alguém desconhecido, passou a ser um deficit. Não chorava, já não sabia chorar. Não tinha razões para chorar porque não sofria. Sofria de vazio. Quando o vazio é um problema, é porque chegou a altura de chorar, de ter razões para chorar. Não se envolvia, não se empenhava em nada, não dava de si à mais simples das causas, não se entregava nem a si. Nem àquilo em que sempre acreditara. Não se empenhava no futuro, não acreditava no futuro.
E a sua palavra mais recorrente era Não.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Às Vezes vezes 8

Acontece-me várias vezes, se calhar até vezes de mais, ler ou ouvir ou pensar numa palavra e ter de a dizer em voz alta. Não vejo isto como uma compulsão, mas qualquer coisa em mim obriga-me a pronunciar a palavra para perceber o sentido. Ou só para a ouvir, às vezes soa bem. E não são necessariamente palavras estranhas ou pouco habituais, mas acontece-me às vezes. Não é uma compulsão, mas nunca é bem visto falar sozinha. Dou por mim muitas vezes a falar sozinha, coitadas das pessoas que se cruzam comigo e me vêem a contar-me histórias. Tenho uma relação com as palavras, as faladas principalmente - as escritas são um meio, mas também as adoro. Elas nunca me soam muito bem quando são ditas por mim e ouvidas por outros, mas se mais ninguém me ouve, gosto. Gosto de me adaptar aos estilos que leio, e não é raro ler um livro, como o que estou a ler agora, muito discursivo mas nada simples, e acomodar-me a esse estilo. Digo o que leio mesmo nas coisas mais banais. Há quem se assuste.
Num dia de sol como o de hoje, e ainda por cima num dia tão fora da rotina, o livro não me basta. Demoro sempre mais a ler nos dias de sol, porque tenho de olhar pela janela e ver o sol e pensar nisso tudo. É melhor do que quando leio de enfiada, em que às vezes parece que salto parágrafos, mas quando volto atrás já estou a repetir. Preciso das palavras, envolvo-me nelas, saio deste mundo para outro e outro qualquer, e vou sempre sozinha, tem piada, é sempre sozinha que mergulho nos meus livros e é sempre sozinha que olho de fora para o que deixei e para o que leio. Muitas vezes nem dou pelo tempo que demoro a fazer catorze estações, quando dou por mim já passaram 27 minutos. E esqueço-me, quase que é outro dia ou outra dimensão ou tenho coisas para fazer de que já me esqueci. E o caminho até casa é sempre mais demorado e comprido, ou sou eu que sou mais lenta porque ainda estou a tentar assimilar. Mas são bons estes dias de sol. Em que apetece sair do comboio e andar por ali, encontrar pessoas e ver se elas também falam sozinhas ou se sou só eu que encarno personagens que às vezes sou eu mesma.

sexta-feira, novembro 16, 2007

Fica

A minha hora é a noite. O meu elemento é o ar. Em movimento. Vento. Sentada no escuro de olhos fechados, oiço o vento e encho o peito de tudo o que ele me traz de ti. Mãos de vento que me secam lágrimas e calam gritos, mãos que me tocam, me abraçam e sacodem. Mãos de vento cheias da sombra que me cobre, que te afasta de mim. Enchem-se de vento os ouvidos, de vento os cabelos, cega-me a poeira que levantam teus passos. Porque partes. Não vás. Fica comigo

terça-feira, outubro 30, 2007

Primeiro dia (noite) de aulas II

(Encontrão)
- Desculpe.
- Não faz mal.
(Segundo encontrão)
- Desculpe.
- Não faz mal.
(Risinhos)
- E como é que estão as coisas lá na tua universidAde?
- Estão boUas, as gajas são giras.
- E simpÁticas, são simpÁticas?
- Sim, dá para fazer amizades!
- Fazer amizades é brutAl!
- Podes crer! Acho mesmo engrAçado quando vais no metro e metes conversa com a miúda que 'tá ao teu lAdo!
- Pá, ya! Isso nunca me aconteceu, mas sempre pensei nessa cena!
- Pois é, é como diz a boUa educação, fEchas o livro e dizes olÁ!
(risinhos)
- Sim, fEchas o livro e dizes olÁ!
(risinhos)
A sequência de frases cretinas repete-se, acompanham-na gestos, risos risos e risos. Mas risos porquê?? A conversa é estúpida, incomoda quem está ao lado, e não vai levar a lado nenhum. A miúda que lê um livro ao vosso lado não vai fechar o livro nem dizer Olá! Está mais concentrada em tentar não ouvir a vossa conversa ridícula, ouve a música pesada e aos gritos no MP3 do miúdo que está à frente dela.
Uma pessoa acaba de ter cinco horas de aulas. Estatística, ainda por cima. São 23h30, uma pessoa está cansada, não lhe apetece ter de fingir que não vos ouve. Voltem lá para Rio Tinto ou Gaia ou Fafe de onde vieram e não me chateiem! Deixem-me ler o meu livro. Até podia ser uma réplica da lista telefónica, essa miúda não vai levantar os olhos do livro para vos dizer olá, porque já a chatearam tempo demais com essa conversa ridícula. Vai continuar a fingir que vocês não existem!
Aprendam: quando quiserem que uma miúda que lê um livro no metro vos diga olá, não falem um para ou outro, falem directamente para ela, senão estão a ser estúpidos e pouco inteligentes, ninguém quer dizer olá a um tipo com sotaque do Norte profundo que ainda por cima é pouco inteligente.

Primeiro dia (noite) de aulas

Metro Cidade Universitária.
Saída Hospital de Sta Maria.
Sempre em frente ao longo da Avenida Professor Gama Pinto.
Parada no sinal encarnado, à espera do verde.
Desconhecido do outro lado da estrada, à espera do verde.
Nada de especial chama a atenção por falta de óculos e dificuldades de visão nocturna.
Sinal verde.
Desconhecido giríssimo cheio de embrulhos nas mãos e Desconhecida pronta para as aulas de frente um para o outro, hesitação no meio da passadeira para escolher quem vai pela direita e quem pela esquerda.
Sorriso.
Sorriso.

sábado, outubro 27, 2007

Trabalho, procura-se!

Faço revisão e correcção de textos.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Retournée

Voltar a casa não é difícil.
Não é difícil quando tenho um abraço de Pai à espera no aeroporto.
Não é difícil se tenho a casa quentinha e cheia de flores. A Mãe à minha espera para falar. Os risos de sempre da minha casa. Sintra. Dormir em Sintra. Jantar com todas. Amigos que aparecem.
Não é difícil. É bom.
É bom estar numa casa onde não se consegue ler um livro sossegada. É bom uma casa que tem um sofá. Cortinas. Tapetes. Gente. Risos. Calor. Novidades novinhas em folha. Manas.
Tinha medo de chegar e ver que tudo estava na mesma. É bom chegar e ver que está. Menos eu.
Cresci.
Estou preparada para voltar para esta casa e esta família, que me abraça e que está em casa, mesmo quando não está.
Sinto-me segura no silêncio do sono dos quartos ao lado.
Não foi um fracasso. Não perdi nada.
Cresci. Tens razão, Marta, cresci.
Não consigo dormir, mas gosto de ouvir a Filipa na cama ao lado, gosto de saber que amanhã, mais cedo do que eu queria, vou acordar com o movimento da minha casa. A Minha Casa. É esta. Nunca foi um 5º andar vazio.
Paris foi bom pelo que foi e pelo que trouxe, mas esta é a minha Casa, aqui sou mais Vera.
Cresci, e posso voltar para casa, onde vão gostar mais de mim, estou melhor - vi o que não quero ser.

segunda-feira, outubro 22, 2007

Medo

de cães
do escuro
de andar de carro à noite quando não tenho os óculos
de gente estranha na rua
de morrer
de ser atropelada
de ter um desastre e ninguém saber
de não poder ter filhos
de ter filhos
de palhaços
de nunca mais deixar de ter calor
de nunca mais deixar de ter frio
de fogo de artifício
de barulhos muito intensos no geral
de ser raptada
de enlouquecer
de falar em público
de vespas (não de abelhas, só de vespas)
de nunca mais conseguir dormir uma noite inteira
de não conseguir acabar uma coisa muito importante que comecei
de ver filmes de terror
de nunca chegar a perceber o que é que quero realmente fazer
de nunca me vir a entregar 100% ao que faço
de perder o que já foi
de esquecer
de ver cada dia pior
de agulhas
do mar da Praia Grande, às vezes
da Estrada da Pena à noite, sozinha no carro
de trovoada
de voltar para Lisboa daqui a dois dias e ver que está tudo igual. E eu também.


domingo, outubro 21, 2007

ULTIMOS DIAS
Está muito incongruente, este meu blog.

terça-feira, outubro 16, 2007

Maison de Portugal

Depois de chegar a uma certeza e de uma noite sem conseguir dormir sobre essa certeza vem sempre um dia difícil. E se esse dia acabar por derrubar essa certeza, posso esperar por uma noite impossível. Acabo de descobrir o que procurava em Paris. Mas não em mim e não na minha vida. Viver no 8éme nao é um estrondo, como eu pensava. Acabei de descobrir o que é Erasmus, mas não o meu erasmus. E acabei de descobrir que tudo o que escrevi aqui antes não passou de ilusão: a janela de oportunidades que se abriu em Maio acabou por ser a mais castradora das experiências. E quase desisti de tudo sem saber o que era tudo. E agora voltei à incerteza.
Já sei que quero viver em Paris mas não sozinha em Paris, mas não sei como vou fazer para conseguir isso. Já sei que preciso de um trabalho, mas este não me serve, quero outro. E o mestrado é secundário, há muito mais para viver aqui, e a falta de 18 créditos não passa de um pormenor. Mais um ano? O que é isso, comparado com 3 meses aqui? E descobri tudo isto em 50 minutos numa maison de portugal na cité universitaire, com não sei quantos portugueses que vieram cá fazer o mesmo que eu, mas que encontraram uma vida muito diferente da que eu tive. Tenho de ficar. Tenho de encontrar o meu lugar em Paris, afinal o que eu imaginei existe e não é assim tão inalcançável. Um esforço, não me parece que seja muito mais do que isso. Tenho de me encontrar, tenho de perceber o que quero (ou antes: tenho de perceber como chegar ao que quero). Obrigada J. Paris por outros olhos.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Rue Clément Marot

1 mês de Paris.
A verdade? Não sei o que escrever.

terça-feira, outubro 09, 2007

Russie Blanche

Uma manhã. Menos, uma hora dessa manhã. É o que basta para decidir o fim de tudo. Um metro de pessoa. Meses de preparação, noites sem dormir a antecipar tudo. Para afinal nada ser como se pensa, e tudo escorre devagar enquanto subo cinco andares. Fazer malas e voar? Já? Vale a pena esperar mais? Vale a pena procurar noutro lugar? Vale a pena acreditar que vale a pena? Entrego-me muito facilmente. Talvez. Mas não foi fácil, nada aqui foi fácil. Eu não desisto, perder as forças não é desistir. Quando se torna impossível, o que é que se pode fazer? Não depende só de mim, mas estoiro de pensar que depende de uma pessoa que não é uma pessoa. Antinatura. Vais ficar sozinha, minha pequena, tenho muita pena.
- Tout le monde va partir.
- Sauf maman.
Está bem, acredita nisso! Tenho pena de ti, a tua brancura não te vai salvar, porque ela não é pureza, mas doença. Não é inocência, mas dissimulação. A brancura transparente e esverdeada dos vilões. Rezo por ti, não ficas na minha vida depois de me ir embora, mas ficas na tua. E ninguém aguenta alguém assim, nem tu mesma. Acima de tudo, tu mesma.
E não sei quem és na vida para escrever sobre ti. Mas tens o poder de destruir sonhos.

segunda-feira, setembro 24, 2007

Michael Ondaatje II

"Quando alguém fala, ele observa-lhe a boca e não os olhos com as suas cores, a seu ver sempre mutaveis, consoante a luz de uma sala, o momento do dia. As bocas revelam a insegurança ou a presunção ou qualquer outro ponto do espectro do caracter. Para ele são a feição mais complexa de um rosto. Ele nunca sabe ao certo o que uns olhos revelam. Mas consegue descortinar nas bocas uma nuvem de indiferença, uma sugestão de ternura. È facil avaliar erradamente um par de olhos, pela forma como reagem a um simples raio de sol."

In The English Patient





Este livro fala demais sobre mim

Michael Ondaatje

"Kip sai do campo onde andou a cavar, a mão esquerda erguida diante do corpo como se a tivesse magoado.
Passa pelo espantalho da horta de Hana, o crucifixo com latas penduradas e sobe a encosta em direcção à villa. Ampara a mão com a outra, como se resguardasse a chama de uma vela. Hana sai para o terraço, ao seu encontro, e ele pega-lhe na mão e encosta-a à sua. A joaninha que corre em volta da unha do dedo mìnimo passa rapidamente para o pulso dela.
Hana volta para dentro de casa. Agora é ela que leva a mão erguida à sua frente. Atravessa a cozinha e sobe a escada.
O doente vira-se para ela ao ouvi-la entrar. Ela toca-lhe no pé com a mão onde traz a joaninha. O bicho abandona o seu dedo, trocando-o pela pele escura. Evitando o mar de lençòis, inicia a longa caminhada qté ao outro extremo do corpo do doente, mancha vermelho-vivo sobre aquela carne vulcanica."


In The English Patient

Paris

Ja passaram duas semanas. Duas. 2. Ja quis desistir, largar tudo e voltar ao quentinho da minha vida. Ja ocupei o meu espaço numa casa onde não posso ficar mas onde adoro dançar e dormir numa cama grande, onde gosto das manhãs de domingo ao sol. Ja sei fazer umas perguntas nesta lingua redonda, circular, sempre circular e que me cansa, é verdade. Ja comprei dois jornais e uma revista para ir treinando e poder deixar de me cansar tanto. Ja sei que quero ficar, mas que para isso talvez tenha de mudar algumas coisas. Ja pensei em procurar essas coisas que tenho de mudar, uma casa que possa tambem aprender a amar, um trabalho. Ja me deitei na relva, como eles, ao domingo, e também durante a semana, à hora de almoço. Ja conheço mais ou menos este teclado onde o A e o Q estão trocados, onde o til não é muito facil, onde é preciso fazer shift para usar um ponto.
Gosto desta cidade e desta minha vida, apesar das imensas saudades - saudades de pequenas coisas que eram mais do que dado adquirido: estavam tão entranhadas na minha vida que eu nem dava por elas. E agora valorizo. E sinto falta. Não é facil estar longe, mas com o tempo pode ser que este longe se aproxime. De mim, quero eu dizer. Paris

domingo, setembro 09, 2007

Coquette


Em arrumações para a partida - daqui a dois dias - descobri que tenho 33 pares de sapatos.

quinta-feira, setembro 06, 2007

5 Dias

Daqui a cinco dias vou tomar banho, vestir o pijama e adormecer em Paris pela primeira vez. Quando escolhi Paris e me candidatei, nunca imaginei que este dia chegasse tão depressa. E se não pensei noutra coisa senão nisso durante os últimos cinco meses, o que me apetece agora, o que não me sai da cabeça é quem me dera poder voltar atrás e pensar melhor. Não me apetece Paris agora. Não me apetece sair da minha vida, largar tudo e ficar lá sozinha. E por antecipação sinto-me sozinha. Não me apetece. Vai mudar, eu sei que quando chegar lá fico deslumbrada e choro só de pensar em vir-me embora. É assim que funciona, não é? Mas, e agora? Como é que giro as contradições todas? Como é que explico a mim mesma que foi a minha melhor decisão, que vai ser óptimo e que vou adorar, como é que me explico que nada fica para trás e posso sempre voltar à minha Vida? Ou que a minha Vida vai comigo? Que a minha Vida sou eu e os Passos que dou? Porque é assim que as coisas são, não é? As dúvidas ficam pelo caminho, nem chegam a sair do avião, pois não?
Alguém sabe a resposta? Porque o que me parece é que eu sei e digo todas as respostas, não consigo é ouvi-las!
Alguém sabe a resposta?

segunda-feira, julho 16, 2007

50 Minutos

Conheciam-se desde sempre, e desde sempre uma qualquer electricidade corria entre eles. Era uma coisa altamente física mas era mais do que isso. Uma amizade profunda que se deixava perfurar pela atracção. Não se falava sobre isso, entre eles, mas toda a gente sabia e esperava. Era previsível, mas impraticável. Até ao dia em que deixou de ser inocente. A tensão era insuportável, sentia-se no ar entre eles. Os olhos ardiam, de tanta fixidez. Quem deles seria capaz de quebrar a corrente e dar um primeiro passo? Nenhum dos dois se atrevia, porque abrir um precedente significava ir até ao fim. Sem reservas. Sem pensar, mas sem consequências depois. Porque tudo continuaria na mesma, só a electricidade corrente poderia desaparecer. Poderia, mas sem certezas. Quem é que podia garantir que essa consumação não iria transformar uma amizade profunda entre um homem e uma mulher, nada inocente mas, ainda assim, platónico, no Amor de uma vida? Nenhum dos dois sabia se queria uma coisa assim, mas os dois conheciam as consequências. Não havia nada a perder, mas nem ele nem ela se mexeram. Durante cinquenta longos minutos escorridos nos vidros embaciados do carro. Não se tocavam, mas sentiam a vibração da pele um do outro. Desejo puro, que se sente, se respira, que tem cheiro e que quase se ouve nas células. Um único movimento contradizente e acabava-se o momento. Um desviar dos olhos. O silêncio não magoa, porque não existe. Respiração, corpos vibrantes, a chuva em cima do tejadilho. Calor insuportável. No momento em que ela decidiu mexer a cabeça para olhar para a rua, ele fez um movimento brusco, agarrou-a pelos ombros com força e puxou-a para si com as duas mãos. O beijo que a recebeu não foi ansioso, como esperava, mas fresco e leve, sem deixar de ser intenso. Ele agarrou-a mais e as mãos perderam-se nos cabelos cheios de vento e areia, despenteados pelo sal. E o que ela sentiu foi muito mais do que uma amizade profunda encerrada no desejo, foi muito mais do que electricidade e células vibrantes. Foi Amor. Amor puro. O Amor de uma vida e para toda a vida. E nesse momento, ela, como ele, teve a certeza que cada um dos cinquenta minutos que escorreram no relógio do carro valera tanto como cem anos de vida ao lado da vida dele.

domingo, julho 01, 2007

Coisas que acontecem na Baía

- Sabe o que é que se está a passar aqui?
- Sim, é o campeonato mundial de vela.
- E sabe até quando é que é? Uma amiga minha vai chegar dos Estados Unidos e queria saber.
- Tem lume? Só começa na 3ª feira, mas vai até meio do mês. Porque é que tem uma guitarra?
- Sou músico. Passei aqui e pensei: se começar a tocar para esta miúda, pode ser que ela me caia nos braços.
- Não me parece.
- Como é que se chama?
- Vera. E você?
- Nuno.
- Não quer tocar qualquer coisa?
- Sim. Se não gostar pode gozar comigo, se gostar pode dar-me um beijinho.
- Também não me parece. Toca em algum sítio?
- Toco numa escola, num hospital e num lar de velhinhos. Não toco em sítios mais comerciais. Mas devia. Escrevi um livro, tinha aqui dois, podia dar-lhe um, mas dei agora a amigos meus.
- Também escreve? O quê?
- Sim, escrevo poesia. E também ilustro.

(Eu Sei que vou te Amar, Caetano Veloso)

- Porque é que estás sentada neste muro sozinha?
- Estou à espera de um amigo meu.
- Estou agora a vender um cd, também não tenho aqui nenhum. Ainda não percebi porque é que estás aqui sentada.
- Estou a trabalhar no campeonato, mas já me vim embora e agora estou à espera de um amigo meu. Se alguém atirar moedas, dividimos os lucros.
- Está bem.
...
- Vera, vou-me embora. Um dia encontramo-nos outra vez por aí.
- Adeus, obrigada pela música.
- Adeus.


E o Nuno foi-se embora com a guitarra às costas, o mesmo ar boémio com que apareceu, nas suas sandálias de turista e barba por fazer. Não sei se um dia o encontro por aí outra vez, mas a música dele ficou comigo até acabar de se pôr o sol.